Assim que o arbitro assoprou o apito,
soou agudo o som do término do jogo. Brasil 1x11 México. Um placar um tanto
exagerado, comentaristas especulavam. “Uma tragédia”, na capa de revistas e
jornais. Também na página 5, com os garotos de moicanos de joelhos à mercê de
suas preces. Neste mesmo jogo, aconteceu o “inesperado” e JOÃO JOSÉ DA SILVA, entrou
pelado no meio do campo e marcou um gol da “vitória” – enquanto em seu peito
estava escrito com tinta vermelha “NÃO VAI TER COPA!”. Os salgadinhos que
estavam a vende e as pipocas eram um espetáculo. Já os torcedores, no momento,
raivosos, sentaram aconchegados em poltronas macias e lindas. Um rapaz, com sua
filhinha já discutia com sua mulher branca de olhos claros em que restaurante
iriam jantar após o jogo; o mesmo, antecipou-se, perguntando onde havia ficado
a chave do carro. Todos saíram aos poucos um atrás do outro depois de uns 20 ou
30 minutos. Lá fora, a pancadaria ia solta entre policiais militares e
torcedores que ficaram de fora e pagaram para ver o jogo e, outros torcedores
de classe-média-baixa que assistia o jogo em um bar a três quadras do estádio.
Alguns usavam camisetas de times brasileiros distintos como Corinthians,
Palmeiras, Santos, entre outros. Depois de muita intimidação, foi autorizado
que os PM tacassem bombas para “dispersar” os torcedores de forma “amigável”,
enquanto no meio da fumaça do ar lacrimogêneo os cassetetes apareciam da
camuflagem e deixavam hematomas em pessoas que passavam por perto. A bagunça
durou pouco mais de duas horas e alguns foram presos. Outros machucados, mas
por sorte, nenhuma morte. Países alheios publicavam em seus jornais e passavam
ao vivo o desgosto e a má estrutura e falta de educação dos trabalhadores do
governo e ele, em si.
Consegui
acompanhar essa matéria que dizia que o jogo da próxima semana seria
supervisionado e com a segurança duplicada. Pessoas discutam e a presidenta fez
um discurso qualquer sobre nada. Assim, vesti-me e saí para a rua com minha
bandeja de paçocas. Um dia cansativo e passar pela Praça da Sé já não era
fácil. Lugar onde cabeças dormem. Policiais em cada esquina da rua e mesmo
assim, a sensação era de medo. A fase de todos, pareciam que estavam com fome,
pensei, que poderiam comprar paçoca, mas não andam com carteira. O dia
cansativo como qualquer outro dia, das 06:00 ás 19:00 na rua, com a experiência
de que nem todos os churrascos-gregos são bons, voltei para casa, e na T.V.
ainda comentavam sobre as tragédias. Boatos surgiram em toda imprensa sobre um
grupo de pessoas que marcaram na internet de paralisar o mundo, de maneira
chocante, invadindo o estádio, previsivelmente, com mascaras – nem todos tinham
dinheiro para compra-la e alguns usariam sacos.
Neste
outro jogo, arrumei meu avental branco e fui para o estádio com minha bandeja e
pipocas e paçocas.
O
jogo já não era do Brasil. Foi um jogo no qual ninguém brigou, ou gritou muito.
Meio silencioso. Porém, a segurança duplicada realmente aumentou. Reconheci o
casal de jovens brancos de olhos claros com sua filhinha, eles torciam, no
camarote. Olhei para dentro e acenando com a mão o mesmo rapaz me chamou:
- quanto é o saco de pipoca?
- 2 reis, senhor.
- da um.
Assim
que dei-lhe o pacote, ele deu-me uma nota de R$50,00 e disse que eu poderia
ficar com o troco. Senti uma tontura e fui para casa, peguei o metro e fui para
Sé, depois, cheguei em casa e deitei. Pouco tempo mais tarde, quando liguei a
T.V. ao vivo no jogo, passava o momento caótico do jogo, quando jogadores de
ambos os times começaram a brigar entre si e torcedores revoltados se agitavam
nas arquibancadas. Um grupo todo de preto entrou dos portões à dentro e entrou
no meio da briga, obrigando o reforço duplo fazer seu papel. A agressão era tão
exposta como algo já previsto antes. Desliguei a T.V. e fui direto para o
telefone ligar para minha mulher, que trabalhava na copa de um restaurante na
augusta.
- ei, espera aí que eu vou te buscar.
- o que houve?
- ta uma bagunça do caralho, o metro vai
estar cheio.
- tudo bem.
Ouvi
um barulho do outro lado da linha como vidros sendo quebrados.
- que barulho é esse?
- uns rapazes aqui.
- que copa barulhenta.
- é, chutaram um balde.
Após
buscá-la e já estar em casa, cheguei e dormi.
Quando
amanheceu nos jornais, o caos foi publicado, quando uma bala de borracha
atingiu em cheio na testa de uma garota estadunidense branca e de olhos claros.
Seu pai furioso apareceu em tela chorando, o mesmo, socou a câmera e entrou no
hospital, pouco tempo depois, o resultado verídico foi o falecimento de uma
criança. O caso mesmo sendo investigado, não possuiu tanto espaço nas mídias,
uma semana depois, menos pessoas falavam sobre o caso, que publicaram dias
atrás “o falecimento de uma noção”. Nos jornais, o foco, era inspirar os
jogadores, em busca do HEXA.